Estou tentando engravidar. Quando devo procurar um
médico?
“Um casal
saudável, que mantém relações sexuais regulares, pelo menos de 2 vezes por
semana, tem cerca de 25% de chance de engravidar a cada ciclo ovulatório”,
estima o ginecologista Mario Cavagna, da Comissão de Reprodução Humana da
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Na prática, isso significa que um ano é um prazo
razoável para aguardar a boa nova sem suspeitar de um problema de fertilidade.
Essa é a orientação da Organização Mundial de Saúde desde que, obviamente, não
haja sintomas ou histórico de doenças que justifiquem antecipar a visita ao
médico.
“Irregularidade menstrual, infecções pélvicas, dor
durante o sexo, assim como episódios de caxumba ou varicocele no parceiro podem
dificultar a concepção e, por isso, pedem uma avaliação imediata”, avisa o
obstetra Cesar Eduardo Fernandes, presidente da Associação de Ginecologia e
Obstetrícia de São Paulo.
Aos 35 anos, a taxa de fertilidade feminina cai.
Por isso, caso não engravidem em 6 meses, as mulheres já devem procurar um
especialista e checar se está tudo em ordem para a chegada do bebê.
O estresse dificulta
a gravidez?
“Evidências
científicas mostram que o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, de drogas,
a obesidade e o estresse podem comprometer a capacidade reprodutiva”, alerta
Cavagna. Segundo o médico, os nervos à flor da pele impactam no sistema
límbico, área do cérebro onde se processam as emoções. E ele se localiza bem
próximo ao hipotálamo, região que comanda a liberação de hormônios envolvidos
na ovulação, o FSH e o LH.
O recado é claro: em vez de se deixar consumir
pela ansiedade, as mulheres que pretendem engravidar devem investir na prática
de exercícios físicos e atividades de relaxamento, como ioga ou Pilates.
Esbanjar quilos extras é outro entrave para as futuras mães.
“O tecido adiposo, aquele repleto de células de
gordura, produz hormônio feminino, o estrogênio. Há indícios de que, em alguns
casos, isso desequilibre a produção natural”, justifica Cavagna.
Quem sempre tomou
pílula anticoncepcional tem mais dificuldade para engravidar?
Se você sempre tomou pílula anticoncepcional, talvez
precise de um pouquinho mais de paciência. “Algumas mulheres podem demorar de
um a três meses para que a fertilidade se restabeleça”, avisa Cavagna. Porém,
essa não é a regra. Em geral, a ovulação costuma ser recuperada logo que a
medicação é interrompida.
Por que quem tem a intenção de engravidar deve tomar
ácido fólico?
Essa
vitamina, também conhecida como B9 e folato, é pré-requisito para quem pretende
gerar um filho. Ela previne malformações e participa do desenvolvimento do
sistema nervoso do feto, principalmente nas primeiras semanas de gestação.
Segundo a nutricionista Renata Cristina Gonçalves, de São Paulo, deve-se iniciar a suplementação do nutriente três meses antes da gravidez e mantê-la até a barriga completar o primeiro trimestre. Sob orientação médica, claro.
Por que a fertilidade feminina vai diminuindo com o
passar dos anos?
Ao
contrário dos homens, cuja produção de espermatozoides acontece o tempo todo, a
mulher nasce com uma quantidade estabelecida de aproximadamente 1 milhão de
óvulos e os perde com o passar dos anos.
Quando
menstrua pela primeira vez, este número já está reduzido a cerca de 400 mil. A
qualidade dessas “unidades reprodutivas” também sofre a ação do tempo. Tudo
isso faz com que a probabilidade de engravidar a cada ciclo ovulatório entre em
declínio à medida que a idade avança.
E se eu não conseguir
engravidar em um ano?
Espera-se que, no prazo de 12 meses, 85% dos
casais em idade fértil consigam encomendar o novo membro da família. Caso a
empreitada não seja bem-sucedida, é provável que um dos parceiros ou ambos se
enquadrem no grupo de 10 a 15% da população adulta com problemas de
infertilidade. Não há, porém, motivo para entregar os pontos. Grande parte
desses distúrbios é reversível e ainda existe a possibilidade de recorrer à
reprodução assistida.
Quais são as
primeiras providências?
Para viabilizar a gravidez, é essencial que não
só a mulher mas também o homem encare um check-up médico. Dados internacionais
mostram que 40% dos casos de infertilidade do casal se devem a alterações
masculinas; 40%, femininas e, em 20% das situações, o distúrbio é
compartilhado. Por isso, convença seu parceiro sobre a importância de se
submeter à avaliação.
Como identificar e
tratar a infertilidade masculina?
Dosagem hormonal, exame clínico e um espermograma
estão entre os testes de praxe. O objetivo é verificar se o candidato a pai
produz espermatozoides em concentração, motilidade e morfologia adequados para
que a fecundação ocorra. Algumas das falhas na fabricação de gametas têm
solução cirúrgica. Outras, infelizmente, não. Mas há casos em que a reprodução
assistida consegue dar uma forcinha aos espermatozoides mais espertos entre os
preguiçosos, como explicaremos adiante.
Quais as principais causas de infertilidade
feminina?
Entre as mulheres, uma série de disfunções
hormonais e funcionais podem estar por trás da dificuldade de conceber um
filho. “Entre as mais frequentes, estão a endometriose, crescimento anormal do
tecido que reveste o útero, para fora dessa cavidade”, explica César Eduardo
Fernandes. “A Síndrome dos Ovários Policísticos, distúrbio em que há aumento na
produção de hormônios masculinos, também afeta a ovulação”. Ele
acrescenta que problemas nas trompas e infecções pélvicas, como clamídia e
gonorréia, podem promover uma obstrução que requer cirurgia para recuperar a
capacidade fértil da mulher.
Desequilíbrios
hormonais provocados por hipotireoidismo, tumores de hipófise, entre outros,
completam a lista de obstáculos que precisam ser tratados previamente. Se
houver suspeita, o médico pode lançar mão de exames que ajudam a flagrar o
verdadeiro culpado.
Será que devo recorrer à reprodução assistida?
A
reprodução assistida é a maior esperança de aumentar a família, no caso de
insucessos consecutivos na concepção natural, seja por impedimentos
fisiológicos, seja devido à idade avançada. Mulheres mais jovens têm até 50% de
chance de engravidar no primeiro tratamento. Aos 40 anos, a probabilidade cai
para 20% e continua declinando a partir daí. Existem critérios bem definidos
para a eleição de cada método. Fique por dentro e discuta com seu médico qual o
mais apropriado para você:
Inseminação
artificial
Depois da
coleta do sêmen pelo próprio homem, os espermatozoides são preparados em
laboratório e, no período de ovulação, injetados dentro do útero. O objetivo
dessa técnica é promover o encontro do gameta masculino com o óvulo, driblando
eventuais barreiras no aparelho reprodutor da mulher e melhorando a agilidade
dos espermatozoides.
"Embora esse tratamento seja menos invasivo
e mais barato do que uma fertilização in vitro, ele não é tão eficaz e requer
uma boa permeabilidade tubária da mulher, além de espermatozoides de qualidade
e quantidade aprovadas em um teste prévio de laboratório", ressalva Mario
Cavagna.
Indução
de ovulação
Consiste na
administração de hormônios femininos injetáveis ou orais, com o objetivo de
estimular a liberação do óvulo. Por meio de ultrassonografia, é possível
monitorar a resposta dos ovários aos estímulos. É indicado em situações de
falhas na ovulação.
Fertilização
in vitro (FIV)
A mulher
que opta por essa técnica precisa enfrentar quatro etapas. Primeiro, recebe
medicamentos para estimular a ovulação. Em seguida, o especialista aspira os
óvulos, por meio de uma agulha introduzida no canal vaginal, com anestesia
local e sedação. Paralelamente, os espermatozoides são colhidos. Depois de
analisá-los e prepará-los, o cientista fertiliza o óvulo em laboratório. Se o
procedimento for bem-sucedido, o embrião é transferido para o útero. O método é
indicado em casos de problemas nas trompas, como sequelas de infecções ou
endometriose, e para pacientes que foram submetidas à laqueadura. Como
pré-requisitos, pelo menos um ovário deve responder à indução da ovulação e a
cavidade uterina precisa estar íntegra.
Injeção
intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI)
Trata-se de
uma estratégia complementar, que visa ampliar as chances de sucesso da
fertização in vitro. É recomendada quando o homem apresenta algum
comprometimento grave da fertilidade, como baixa quantidade de espermatozoides
ou ausência deles no esperma (nesse caso, o especialista tenta extrair as
células diretamente do testículo). Em seguida, os gametas são selecionados e o
mais potente é introduzido diretamente, por meio de uma finíssima agulha, no
óvulo. Depois de formado o embrião, segue-se o processo padrão de FIV.
Bebê Abril
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