Crises de rinite, bronquite e outras alergias respiratórias são comuns nesta época do ano. Saiba por que as crianças estão entre as mais afetadas e veja como prevenir o seu filho.
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Chega a temporada mais fria do ano e a
agenda dos pediatras começa a ficar apertada. Por causa de uma combinação de
fatores, o outono e o inverno são estações particularmente difíceis para quem
sofre de alergias respiratórias - e as crianças estão cada vez mais sujeitas a
esse mal dos tempos modernos. Quem já convive com o problema pode minimizar
seus efeitos. Melhor: a ciência vem trabalhando com armas específicas para
combatê-lo com cada vez mais precisão.
De acordo com a Associação Brasileira de
Alergia e Imunologia (Asbai), 30% da população mundial sofre de rinite alérgica
e 10% de asma ou bronquite, as alergias respiratórias mais comuns em todo
o mundo. "Novos estudos apontam na direção da epigenética, que coloca como
responsável pela doença não apenas a herança genética mas também os fatores
ambientais", afirma a médica alergista Renata Rodrigues Cocco, da Escola
Paulista de Medicina (Unifesp) e do Hospital Israelita Albert Einstein, em São
Paulo.
Os tais fatores que contribuem para
aumentar os casos de alergia têm relação direta com o estilo de vida que
levamos hoje. "Passamos de 90% a 98% da nossa vida em ambientes fechados,
sendo que quase metade desse tempo no próprio quarto", relata o médico
Fábio Morato Castro, presidente da Asbai e professor da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (USP). Quanto mais permanecemos confinados, mais
ajudamos os antígenos (substâncias que provocam reações do sistema imunológico,
ou seja, alergias) a se aproximar de nós, se multiplicar e nos atacar. Os
ácaros, maiores vilões das alergias respiratórias, se alimentam sobretudo de
fragmentos da nossa pele, que se depositam ao montes em colchões, travesseiros,
sofás e casacos. Exterminá-los completamente não é possível. "O segredo é
tornar o ambiente hostil ao ácaro, o que só se consegue com um lugar fácil de
limpar", explica o alergista Fábio Castro.
"Mais da metade da eficácia do
tratamento tem a ver com a higiene do ambiente físico; o restante se obtém com
o arsenal terapêutico", garante a médica alergista Danielle Kierstman
Harari, preceptora dos residentes de alergia e imunologia pediátrica na Escola
Paulista de Medicina (Unifesp). O tratamento com medicamento passa por
diferentes fases: para a crise, usam-se medicações de alívio, como
anti-histamínico (antialérgico) e broncodilatador de curta ação. O tratamento
anti-inflamatório, com os corticoides tópicos nasais e inalatórios, corre
paralelamente e muitas vezes permanece fora dos períodos de crise, como prevenção.
Aos que sofrem de dermatite atópica - a "asma" na pele -, hidratantes
emolientes indicados pelos médicos e pomadas específicas são as armas mais
eficazes.
As vacinas (imunoterapia) funcionam como
tratamento coadjuvante em muitos casos de rinite alérgica persistente e, às
vezes, de asma. Elas são preparadas em laboratórios que produzem extratos
padronizados e somente devem ser prescritas se o paciente possuir o teste
alérgico positivo. "Além de acompanhamento médico, o ambiente adequado,
alimentação balanceada e a prática regular de exercícios físicos melhora a
capacidade pulmonar e fortalece a parte muscular, o que também ajuda a manter a
alergia sob controle", afirma Danielle.
Para a empresária Renata Belem Marchetti
Moraes, de São Paulo, a batalha contra a alergia vai melhorando ano a ano,
mas está longe de ser vencida. O filho dela, André, começou a manifestar sinais
na pele nos primeiros meses de vida, e a bronquite veio no primeiro ano. Foram
anos de remédios, idas ao hospital e inalação. "Aos 6 anos, André começou
a melhorar e hoje, com 10 anos, quase não sofre com crises respiratórias",
conta Renata. "Mas alergias de pele e a irritação no nariz continuam e
chegam com força junto com o frio." Para a dona de casa paulistana Cristiane
Midory Esteves, a mudança na rotina doméstica foi total com as crises severas
do caçula, Gabriel, hoje com 5 anos. "Lavo os cobertores quinzenalmente, e
a casa toda é limpa sempre com produtos neutros", diz ela. A qualquer
sinal de crise, Cristiane coloca Gabriel em repouso e parte para o arsenal de
emergência. Muitas vezes, um resfriado de fim de verão, outra "praga"
que é complicadora para os alérgicos, acaba levando as crianças ao médico antes
do tratamento preventivo, levando os consultórios dos pediatras a bater
recordes de lotação todo ano no outono.
Estações do perigo
Por que os alérgicos sofrem durante o
outono e o inverno:
1. Inversões térmicas, que aumentam a
concentração de poluentes na atmosfera, e variações climáticas em um mesmo dia
afetam o sistema respiratório.
2. A queda de folhas de árvores no outono
traz mais partículas para os ambientes.
3. Roupas guardadas por muito tempo,
gavetas e armários que ficaram fechados... Onde há mofo, há irritação.
4. Uma frente fria súbita faz todo mundo
tirar casacos e cobertores que estavam guardados e usá-los sem lavar antes.
Crise na certa.
5. Ficar muito tempo em ambientes fechados
ajuda na proliferação de ácaros, que se alimentam de fragmentos de pele.
6. A permanência prolongada em locais com
menor ventilação facilita o contágio por vírus e agentes alérgenos. A criança
que apresenta secreção de rinite, inócua, ao entrar em contato com gotículas de
espirro ou tosse de alguém com infecção, tem mais risco de se contaminar.
Quarto saudável
Como ajudar seu filho a sofrer menos com
as crises:
1. Nada de tapetes ou carpetes. Limpe o
chão sempre com pano úmido, nunca com vassouras.
2. Tire as cortinas. Lembre-se de
tirar o pó com um pano levemente úmido.
3. Casacos e roupas de inverno devem
ser lavados antes do início do frio, assim como edredons (melhores do que
cobertores).
4. Quanto menos objetos expostos houver no
quarto, melhor para a criança. Evite sobretudo os bichos de pelúcia.
5. O colchão deve ser coberto com um capa
impermeável, evitando que os ácaros se instalem em seu interior.
6. Deixe a luz do sol e o ar entrarem no
quarto o maior tempo possível. Um ditado já diz: "Onde entra o sol, não
entra o médico".
Denise Bobadilha
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