sexta-feira, 25 de julho de 2014

Grávidas e crianças devem comer mais peixe


consumo-peixe

















Foto: Getty Images

Peixe passa longe do cardápio na sua casa? Então está na hora de acrescentá-lo ao seu cardápio! Os órgãos de saúde americanos Food and Drug Administration (FDA) e Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos anunciaram recentemente que o ideal é ingerir ao menos duas porções de peixe por semana – especialmente crianças, grávidas e mulheres que amamentam.
“A ciência emergente agora nos diz que limitar ou evitar peixe durante a gravidez e os primeiros anos de vida da criança pode significar a perda de nutrientes importantes que têm um impacto positivo no crescimento e desenvolvimento, assim como na saúde em geral”, disse o cientista chefe do FDA, Stephen Ostroff, em comunicado. Mas fique atenta! A recomendação do FDA inclui apenas salmão, atum, camarão e bacalhau, que possuem baixo teor de mercúrio.
Para entender por que consumir peixe é tão importante para a saúde, conversamos com duas especialistas: Ana Potenza, nutricionista clínica do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, e Lenycia Neri, nutricionista do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo (FMUSP). Confira:
Grávida pode comer peixe cru, como sushi, por exemplo?
Ana Potenza: Não, a grávida não deve ingerir peixe cru. As mulheres grávidas e seus filhos têm maior risco de desenvolver certas doenças de origem alimentar, como por exemplo a listeriose, causada por uma bactéria chamada Listeria monocytogene. Essa bactéria pode ser encontrada em alimentos como peixes, algumas carnes e queijos produzidos a partir de leite não-pasteurizado.
Por que é importante que a grávida ingira peixes?
Ana Potenza: O peixe, incluindo frutos do mar, é um alimento bastante saudável, pobre em gorduras saturadas e rico em proteínas. É a principal fonte alimentar de dois ácidos graxos poliinsaturados importantes: o ácido docosahexanóico (DHA) e ácido eicosapentaenóico (EPA). O DHA tem uma função importantíssima no desenvolvimento neuropsicomotor do recém-nascido e durante a gestação, além de, na lactação, melhorar o valor calórico do leite materno. O consumo desses ácidos graxos durante a gestação está relacionado também com baixo risco para parto prematuro e, consequentemente, baixo peso ao nascer do bebê. Existem estudos em andamento mostrando que DHA e EPA podem modular várias vias biológicas e, portanto, reduzir o risco de diabetes gestacional, pré-eclâmpsia e o desenvolvimento de doença alérgica no recém-nascido. A recomendação é de 200 mg de DHA a partir da 20ª semana de gestação até o final da lactação — o que corresponde a três porções de peixe por semana ou cápsulas contendo essa quantidade de DHA.
Quais os prejuízos para o bebê se a mãe não come peixe?
Ana Potenza: O DHA é um nutriente importante para o desenvolvimento do cérebro, sistema nervoso e acuidade visual dos recém-nascidos. Sendo assim, a falta desse nutriente na dieta da mãe pode causar prejuízo no desenvolvimento desses sistemas.
Se a mulher não gosta de peixe de jeito nenhum, quais as outras opções para ingerir ômega-3?
Ana Potenza: A outra opção para ingerir ômega-3 na quantidade recomendada é ingerir cápsulas desse nutriente. Para isso, a gestante deve procurar o seu médico ou nutricionista.
A partir de que idade é indicado acrescentar peixe ao cardápio do bebê?
Lenycia Neri: O peixe deve ser incluído na alimentação do bebê a partir dos 6 meses, junto com outros alimentos que complementam o leite materno. Na verdade, antes dos 6 meses a oferta de ácidos graxos essenciais fica por conta da mãe, que, quando não consome adequadamente peixes na sua alimentação, é orientada a suplementar com cápsulas de ômega-3 (DHA) durante a gestação e lactação.
O ideal é incluir o peixe no cardápio quantas vezes por semana?
Lenycia Neri: O ideal é incluir de 2 a 3 vezes por semana, preferencialmente peixes ricos em ômega-3, como sardinha, salmão e atum. Além disso, evitar a fritura. O melhor é optar pelo assado, grelhado ou cozido. Recomendo a mesma quantidade de consumo para gestantes ou mulheres que estão amamentando. Dessa maneira, elas irão transmitir, através da placenta ou leite materno, os benefícios para o seu filho. Caso não seja possível a ingestão de peixes, é importante — tanto a gestante ou a mãe que está amamentando — fazer a suplementação de ômega-3 (DHA) nesta fase de formação do sistema nervoso e visão da criança.
Existe alguma restrição para a criança comer peixe cru, como sushi?
Lenycia Neri: Não é indicado para crianças menores de 2 anos o consumo de peixes crus porque elas ainda estão em fase de maturação do sistema imunológico e não possuem defesa contra alguns microrganismos. Além disso, o alto teor de sódio, caso esses produtos sejam temperados com molho de soja, é contraindicado nesta faixa etária.
Como saber se um peixe tem baixo teor de mercúrio?
Lenycia Neri: É importante saber a procedência do peixe, alguns criadouros não são confiáveis. Além disso, alguns tipos de peixes são mais propensos a acumular mercúrio, como peixe espada, tubarão e cavala. Os peixes com baixo teor de mercúrio e confiáveis são salmão, bagre, sardinhas e atum.
Quais os benefícios para a criança em ter um cardápio rico em peixes?
Lenycia Neri: Cada vez mais, as pesquisas indicam que o consumo de ômega-3 (gordura essencial presente nos peixes) faz parte das células nervosas, o que melhora a capacidade cognitiva da criança, além de ajudar no desenvolvimento da retina, ou seja, da visão do bebê.
E quais os prejuízos para uma criança que não come peixe nunca?
Lenycia Neri: É importante que a criança seja estimulada sempre a consumir todos os grupos de alimentos. A falta de algum grupo de alimentos pode ocasionar a perda de nutrientes. No caso dos peixes, pode haver déficit cognitivo ou de desenvolvimento visual.
Tem alguma dica para aquelas crianças que nem experimentam e já anunciam que não gostam de peixe?
Lenycia Neri: Isso é muito comum em determinadas faixas etárias. É importante levar a criança para a cozinha, mostrar como são os alimentos e, se possível, pedir para ela ajudar no preparo. É uma maneira divertida de familiarizá-la antes da refeição. Outra dica é sempre oferecer o alimento que for novidade no início da refeição, pois a criança estará com mais fome e, possivelmente, aceitará com mais facilidade.
Manuela Macagnan

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